terça-feira, 7 de setembro de 2010

NÃO LEIA SE VOCÊ É UM MOTORISTA, PODERÁ FICAR COM INVEJA DO CARA.



O amor a . . .    e  O quase . . .

Olá!... O meu nome é... deixa pra lá, sou mais conhecido pelo meu apelido de “Zé Quase”. Trabalho em uma empresa multinacional que passou pelos maus bocados do  “Big Bang” na economia mundial. Moro em minha casinha , em uma metrópole, que fica em uma famosa vila conhecida por suas tradições culturais.



Vou contar aqui um pouco da minha vida pessoal pra vocês: “Em uma certa manhã,eu estava tranquilo assistindo em minha TV uma corrida de fórmula 1,  que fazia me relembrar o piloto sena. E observando o Barrichelo em sua vã esperança de se tornar um campeão mundial.  De repente o meu celular toca, tirando a minha concentração.   
   
                                                                                                                                                              

Era o meu amigo e colega de “trampo” chamado Valdike, que gostava de usar óculos escuros, parecido com o do cantor Soriano.
Foi aí que ele me pediu para embarcar no próximo voô, com destino ao Rio de Janeiro, para um almoço, e em seguida haveria uma breve reunião, pertinente à crise que “comia solta” na filial onde eu trabalhava, e era responsável pelo setor de marketing da empresa. Após fazer e comer um lanchinho rapidinho, subi os degraus da escada, entrei em meu quarto, peguei minha mochila e “joguei” algumas coisas dentro.





Dessa forma desci, fui até a porta da sala e saí,  passando pelo pequeno jardim de minha casa, acompanhado como sempre pelo meu fiel cãozinho Bem Vindo! (Não estranhe, o nome é esse mesmo!) Isso porque ele é “bonzinho” com todo mundo.




Já na garagem, peguei meu velho e reformado “vokinho”, novinho em “foia”, de dar inveja ao calhambeque do Roberto.
 Em seguida, sentei-me orgulhosamente atrás do volante, capeado com couro legítimo. Era ali, onde geralmente eu me sentia “O Cara”,  onde eu tinha o péssimo hábito de desviar o olhar para mexer com algumas “minas” coelhinhas que via pelas ruas da cidade, e com o som muito louco, saía furando os tímpanos dos ouvidos alheios. Sem falar, do adesivo que colei no vidro lateral, com a seguinte frase:
                                                           
Cara de pau a bordo, abordando os corações!”

Naquela manhã peguei o meu voquinho e saí pisando sem dó no acelerador, indo ao aeroporto para embarcar para o Rio. Com a cabeça ainda confusa, querendo decifrar antecipadamente, sobre o porquê, daquela “reuniãozinha” na cidade que tinha a sede da empresa onde eu trabalhava. E naqueles momentos, era apenas o que o meu cérebro registrava, sendo longos os momentos de distração, e foi nessa ocasião que... De repente ouvi uma buzinada ecoada ao meu lado esquerdo, acompanhado por um breve e agudo grito de:
─ Cuidado moço!   (que invadira os meus ouvidos!)

Levei um tremendo susto que em segundos fez-me acordar dos devaneios mentais em que eu estava mergulhado fazendo com que o meu “Cara” interior pisasse fundo no pedal do voquinho freando bruscamente a mais ou menos três metros de uma passagem de trem estendida bem em baixo do meu nariz, e diante das retinas de meu globo ocular!

─ Ufa! Quase... Por um triz! (Foi só o que consegui pronunciar os meus trêmulos lábios em meio à um rosto pálido do susto.). Rapidamente percebi que fui tomado pelo surto da bobeira.
Virando meu olhar para o lado esquerdo, vi um carro, e o seu condutor com ar de preocupado, conseguia esboçar-me um leve e simpático sorriso,  que logo se desfizera em uma voz melodiosa de tom pastoso aveludado:

─ Moço!, Você está bem?! - Respondendo quase que imediato e envergonhado, numa voz ainda entre cortada pelo susto que passará, respondi:

─ Sim, ok!   estou legal!

Ficamos ali parados em nossos carros por breves momentos, enquanto o trem passava velozmente. O sinal abriu, o condutor ao lado pisará leve e calmamente no acelerador. Mas,  antes de engatar a marcha, me disse em tom carinhoso:

─ Moço, se ligue na direção, e não pense em mais nada! - Depois despediu-se com um leve aceno de mão, e concluiu com a seguinte frase:

─  Tchau!  Mais amor a vida, heim!

Do para-brisa do meu carro,  via aquela pessoa afastando-se e tomando distância do meu veículo, enquanto eu procurava  estacionar o veículo para me recompor  e livrar-me daquela cor amarela do susto que passei. No entanto, estava ainda com lucidez suficiente para fazer a leitura de um nome escrito no para-brisa traseiro daquele veículo, que tomava cada vez mais distância de onde eu havia estacionado.
O susto passou e eu ainda estava com tudo aquilo na “cuca”, e segui com o meu objetivo de ir até ao aeroporto para embarcar nessa tal reunião, mas antes teria que deixar o meu vokinho e um estacionamento fechado.

Enfim... embarcando, não demorou muito e logo como diria o Dino do programa da TV, “Família Dinossauro”, gritei:



─  Rio, cheguei!  



Ao desembarcar, procurei pelo carro do meu amigo Valdike, o inspetor geral das empresas, que estava esperando-me. E, então seguimos dali para um ancoradouro,  alugamos um barco que nos levou a uma pequeno arquipélago muito conhecido pelos seus belos restaurantes, e variadas iguarias;  sem falar das suas praias sempre repleta de beldades femininas.

Ao chegarmos lá, o meu parceiro deu um jeitinho de sumir do mapa, e de  repente para o meu espanto, ele reaparece trajado de uma sunga estilo do filme "Tarzan dos anos 40!”, surpreso e perplexo, perguntei a ele sobre a tal reunião de negócios, e rindo gostoso e desdenhosamente  respondeu-me em alto e bom som, para todos que estavam ali presentes ouvirem:

─ Seu Otário! Não se ligou ainda que era apenas uma pegadinha!
 O negócio aqui é mar, sol e muita mulher bonita,  cara!
Então fui ao W.C. masculino,  inconformado por ter caído nessa, dando o “gostinho” para o Valdike falar no meu ouvido e ainda por cima contar para toda a galera do escritório, pensei:
:
─ Sei lá, depois de tudo o que passei,  tenho que encarar mais essa! Quer mais ou é pouco?

Troquei de roupa para um mergulho naquele “marzão” de meu Deus, pois o meu “muy amigo” tinha providenciado uma ridícula sunga, “xerox” igualzinho ao dele.


Minha cabeça ainda virava, era uma bomba prontinha para explodir, pois levo as coisas quase tudo muito a sério, “não é o que eu acho, mais é o que dizem!”


De repente, veio-me uma boa ideia na cuca! , convidar o Valdike para tomarmos um chopinho. Afinal, não tem nada melhor para refrescar as ideias, ainda mais com todo aquele calor!
Então nos dirigimos até um “quiosquezinho” logo ali adiante, e ainda sem me perdoar, ia pelo caminho conversando com meus botões:
─ Como é que pude me esquecer que o Valdike é um tremendo cascateiro, tipo didi mocó de os trapalhões!
Entre os goles da loirinha e uma beiçada em um tira gosto de camarões  regados com uns limõezinhos,  meditava no que tinha acontecido anteriormente naquela manhã distante da metrópole onde eu moro. Em seguida passou um filme e minha mente: “ Eu, meu vokinho, o trem, o carro ao meu lado, aquele semáforo que estava fechado e a voz que ainda falava em meus ouvidos o tempo todo,  com a mesma advertência: “ Tenha amor a vida, heim!”

Foi então que resolvi contar para meu amigo Valdike o que havia acontecido. Embora ele talvez já tivesse percebido algo, porque já havia me perguntado o que tinha ocorrido, pois eu estava meio estranho.
Passaram-se alguns minutos, o suficiente para relatar a ele “tim-tim por tim-tim” do ocorrido naquela manhã para o Valdike que até então permanecia estático, somente ouvindo, e de repente em um surto, e num misto de exclamação, interrogação e pontos, exclamou:

─ Pô cara! Cê num rezou para levantar?, Só pódi cê isso!.

Sinceramente, confesso que não havia compreendido nadinha de nada do que ele tinha entendido, mas uma coisa eu vou dizer para vocês, ele pode até parecer meio “malucão” as vezes, mas reconheço que ele é um cara de muita fé!
Bem, o dia já estava declinando e eu a partir daí ia tentar me divertir, relaxando um pouco também, antes que o sol me desse “bye-bye”.
A noite chegara rapidamente, decidimos pousarmos em um modesto hotel. No outro dia contrariando os pedidos de “fica-fica” do Valdike, embarquei de volta para a minha bela terrinha Paulista.
Ao chegar em casa, acionei o botão automático da garagem, já sob os “ecos” de meu vira latinha Bem Vindo, entrei e desci do meu vokinho, e  rapidinho adentrando ao meu lar doce lar,  logo corri para um banho, não sem antes colocar um pouco d' água para ferver a fim de fazer um bom chazinho de erva cidreira. Já na cama, degustei o precioso líquido, ainda procurando compreender o que o meu amigo havia entendido a respeito daquela conversa.
Então,  veio aos meus pensamentos um detalhe curioso sobre o carro que estava paralelo ao meu.  Lembrei-me de um nome feminino escrito no para brisa traseiro daquele veículo.
Sem ao menos esperar,  recordei-me,  que o significado daquele nome é: “Enviado por Deus.”
Ao amanhecer, fui até a caixinha de correio, mas antes precisei driblar o meu cãozinho com uma “bolinha”. E depois disso aproveitei para pegar as correspondências e alguns jornais, em seguida, abrindo-as encontrei um cartão de felicitação que datava o mesmo dia daquela quase fatídica manhã, que dizia:


Ao terminar de ler,  arrepiei-me todo, pois não me lembrava de nenhuma colega com esse nome, que poderia congratular-me por aquele dia especial! Fiquei assustado e surpreso ao acabar de constatar, o dia que o Valdike me ligou era a data de meu aniversário e eu nem me lembrava.
Constatei via telefone, e relatei tudo,  inclusive as coincidências dos fatos e dos nomes, no carro e no cartão, ao Valdike, que até então,  ouvindo-me pacientemente,  novamente dando aquela gargalhada primeiro, no seu jeito único de ser, brincando falou:

─ Cara! São muitas coincidências juntas... “Cê  tua salvadora num si chamá Gabriela e morá na Terra, só podi te descidu du céu!”

Desliguei o telefone e depois de uma breve reflexão, entendi que para a “ Dona Morte” não tem lugares, horas, dias, meses, anos e nem datas especiais para aparecer! E então acabei de perceber que a vida é mesmo um “presente”, uma dádiva!
Troquei o adesivo do vokinho  que agora diz:

“ Só pegue na direção se tiver amor a vida, pois ela é o presente de Deus”

Quanto ao motorista daquele carro, não mais a vi, mas serei eternamente grato pela sua responsabilidade no trânsito!
Hoje não sou mais o “Cara”, dirijo com atenção, não conto com o fator sorte, respeito todas as normas de trânsito. E resumindo tudo isso fica a seguinte lição:

─ “Não esperem por um quase...  para terem amor a vida!”


Ah!,  Eu estava esquecendo-me de contar, após aqueles acontecimentos, alguns dias depois, eu estava no domingo vendo jogo na TV tranquilo em minha casa, e de repente o telefone toca,  atendi  e  em seguida uma voz do outro lado da linha me perguntou:

─ Olá!, Como está?,Tudo bem? - Antes que eu respondesse,  continuou a falar:
─ Há dias tento falar com o moço do vokinho verde... Por acaso é você?

No início do diálogo, fiquei apreensivo, achei que era o Valdike com mais uma de suas pegadinha do Faustão para cima de mim. Mas no decorrer, percebi que o tom daquela voz, era meio familiar,  levemente rouca, serena e suave nos meus ouvidos. Então respondi com um sim afirmativo, a pergunta que me fizera.
Ela deu sequência, dizendo:

─ ” Sou a moça do carro que estava parado ao seu lado, junto a linha do trem. Meu nome é Gabriela, sou promotora de vendas e naquele dia eu estava indo à uma reunião na empresa, e já estava atrasada, por isso segui com o meu carro, e do retrovisor vi quando você estacionou. Deduzi que você não estivesse bem, fui embora preocupada! Eu já sabia o seu endereço, pois vejo você sair de sua casa quando vai trabalhar, consegui o seu telefone na placa do muro de sua casa, onde você oferece seus serviços de marketing. Após isso acessei um site de pesquisas na internet e descobri algo mais sobre você, e por isso lhe enviei um cartão de felicitações, porque descobrir que naquela manhã era seu aniversário.”

Meu coração ainda pulando de alegria pela grata surpresa, convidei ela para irmos tomar um lanchinho, próximo ao local da minha “quase fatídica manhã”. Foi ái então que conheci Gabriela, que é uma “doce  pessoa”, dinâmica, gentil, e muito “ligada” na direção. Depois de tantos outros encontros e sermões de leis de trânsito, ficamos noivos e prontinhos para casar. 
 Éh! Pensando bem, eu tive muita sorte! E acho que a Gabi, foi mesmo enviada pra mim!
O duro agora,  é aguentar ela falando no meu ouvido, que naquela manhã, nasceu mais um “zé-responsável” no trânsito. Sem contar, que no escritório todos lá me chamam de:

Zé Quase... ”

Com esta “história” tenho o objetivo de incentivá-los a serem condutores responsáveis, “enviados” as ruas e estradas, para darem exemplos aos “apressadinhos”, engraçadinhos e malucos do trânsito que colocam em jogo a nossa vida. 

Se você for  o “cara", e ou, a "cara" do trânsito e precisar de um grito de alerta, saiba que naquela hora o “cara interior” some da situação, e deixa você amarelo e trêmulo de medo, que até se esquece de dizer:

─ Obrigado, devo-lhe a vida!

Autor: Levy Soares de Souza